Governo avalia que Castro quer jogar responsabilidade por intervenção para Lula e descarta GLO
BRASÍLIA – O governo Lula descarta até agora decretar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Rio de Janeiro após a operação das polícias civis e militares contra o Comando Vermelho. Em reunião nesta quarta-feira, 29, com ministros, no Palácio da Alvorada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado de que o governador do Rio, Cláudio Castro , quer, na prática, jogar a responsabilidade de uma GLO para o Executivo federal e dar um tom eleitoral à crise.
O encontro no Alvorada foi o primeiro compromisso do presidente após o retorno de sua viagem de uma semana à Ásia, na noite de terça-feira. Na reunião, Lula e a equipe concordaram que a intervenção na segurança de um Estado, por meio de GLO, nunca pode ser a primeira alternativa para enfrentar o problema.
A operação contra o Comando Vermelho deixou mais de 100 mortos – o número oficial ainda não foi atualizado –, sendo quatro policiais.
Na avaliação do Palácio do Planalto e do Ministério da Justiça e Segurança Pública, não houve planejamento adequado, inteligência e coordenação das forças policiais no combate ao Comando Vermelho.
Nos bastidores, ministros classificaram a operação no Rio como “desastrada”. Castro é filiado ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e será candidato ao Senado nas eleições de 2026.
Embora tenha pedido desculpas, por telefone, à ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann – após criticar a “omissão” do Executivo federal no caso –, Castro não convenceu o Planalto com seu discurso de “despolitização”.
Em conservas reservadas, auxiliares de Lula argumentam que ele está fazendo uma disputa política com o PT, acentuada pela proximidade do ano eleitoral.
Na semana passada, o Ministério da Justiça entregou ao Planalto um projeto antifacção, com medidas que endurecem o enfrentamento ao crime organizado. O pacote prevê até mesmo a infiltração de agentes e empresas fictícias nas quadrilhas para obter informações.
Lula pediu ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, que o projeto seja enviado ao Congresso na próxima semana. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), se comprometeu a pautar o texto para votação com rapidez.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança, porém, ainda tramita a passos de tartaruga na Câmara. A PEC estabelece a integração das polícias e fortalece o papel do governo federal na coordenação da segurança pública no País. Governadores como Cláudio Castro, Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Ronaldo Caiado (Goiás) foram contra a proposta. Alegaram que a PEC retira a autonomia dos Estados e não passa de uma carta de intenções.
O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, embarcaram na tarde desta quarta-feira para o Rio, onde terão um encontro com o governador.
“Não há bala de prata para resolver essa situação”, disse Lewandowski após a reunião com Lula, no Alvorada. “Para que haja GLO, o governador precisa reconhecer a incapacidade das forças locais para debelar o crime organizado. É muito importante que se sublinhe que a responsabilidade pela segurança pública é dos governos estaduais”.
Horas antes, Cláudio Castro havia afirmado, no Rio, que não pretendia dizer ao Executivo federal qual o dispositivo da lei deveria ser usado para enfrentar o crime organizado.
“Se é GLO ou não, isso é instrumento do governo federal. Não cabe a mim pedir GLO. Temos de pedir ajuda”, observou Castro.
Lewandowski discordou e disse que a entrada das Forças Armadas no enfrentamento ao crime deve, sim, ser requisitada pelos Estados, como manda a Constituição. “A GLO é uma medida excepcional em que as Forças Armadas acabam tomando conta da operação”, resumiu o ministro.
No diagnóstico do diretor-geral da Polícia Federal, o mais importante é asfixiar financeiramente as facções criminosas. “Precisamos descapitalizar o crime e prender lideranças. É assim que já estamos atuando no Rio de Janeiro”, destacou Andrei.

‘Muro do Bope’: polícia diz que encurralou criminosos em área de montanha durante megaoperação no RJ







